Arquivo mensal: outubro 2007

O que move a Humanidade

por Luis Fernando Veríssimo

Existem muitas teorias sobre o que fez o Homem dominar o planeta e construir civilizações enquanto o joão de barro, por exemplo, só consegue construir conjugados, e levar grandes mulheres para a cama enquanto o máximo que um gorila conseguiu foi segurar a mão da Sigourney Weaver. Dizem que o cavalo é mais bonito do que o Homem e a barata é mais resistente, mas não há notícia de uma fuga a tres vozes composta por um cavalo ou uma liga de aço inventada por uma barata. Tudo se deveria ao fato de uma linhagem particular de macacos ter desenvolvido o dedão opositor, com o qual conseguiu descascar uma banana e segurar um tacape, as condições primordiais para dominar o mundo. A vaidade, outra característica exclusivamente humana (o pavão também é vaidoso, mas não gasta uma fortuna com as penas dos outros para fazer sua cauda) também teria contribuido para que o Homem prevalecesse, pois de nada lhe adiantariam suas façanhas com o polegar, e com as mulheres, se não pudesse contar depois. Dai nasceu a linguagem, e com ela a mentira, e Homem estava feito.
Mas eu acho que a verdadeira força motriz do desenvolvimento humano, a razão da superioridade e do sucesso do Homem, foi a preguiça. Com a possivel exceção da própria preguiça, nenhum outro animal é tão preguiçoso quanto o Homem. O desenvolvimento do dedão opositor nasceu da preguiça de combinar dentes e garras para comer e ainda ter que limpar os farelos do peito depois. A linguagem é fruto da preguiça de roncar, grunhir, pular e bater no peito para se comunicar com os outros e, mesmo, ninguém aguentava mais mímica. A técnica é fruto da preguiça. O que são o estilingue, a flecha e a lança senão maneiras de não precisar ir lá e esgoelar a caça ou um semelhante com as mãos, arriscando-se a levar a pior e perder a viagem? O que estaria pensando o inventor da roda senão no eventual desenvolvimento da charrete que,atrelada a um animal menos preguiçoso do que ele, o levaria a toda parte sem que ele precisase correr ou caminhar? Dizem que a agressividade e o gosto pela guerra determinaram o avanço científico da humanidade e se é verdade que a maioria das invenções modernas nasceu da necessidade militar, também é verdade que o objetivo de cada nova arma era o de diminuir o esforço necessario para matar os outros. O produto supremo da ciência militar, o foguete intercontinental com ogivas nucleares múltiplas, é uma obra prima da preguiça aplicada: apertando-se um único botão se mata milhões de outros sem sair da poltrona. Uma combinação perfeita do instinto assassino e do comodismo. A apoteóse do dedão.
Toda a história das telecomunicações, desde os tambores tribais e seus códigos primitivos até os sinais de TV e a internet, se deve ao desejo humano de enviar a mensagem em vez de ir entregá-la pessoalmente ou mandar um guri resmungão. A fome de riqueza e poder do Homem não passa da vontade de poder mandar outros fazerem o que ele tem preguiça de fazer, seja trazer os seus chinelos ou construir as suas pirâmides. A quimica moderna á‚á filha da alquimia, que era a tentativa de ter o ouro sem ter que procurá-lo, ou trabalhar para merecê-lo. A fisica e a filosofia são produtos da contemplação, que é um subproduto da indolência e uma alternativa para a sesta. A grande arte também se deve à preguiça. Não por acaso, o que é considerada a maior realizaçao da melhor época da arte ocidental, o teto da Capela Sistina, foi feita pelo Michelangelo deitado. Proust escreveu o “Em busca do tempo perdido” deitado. Vá lá, recostado. As duas maiores invenções contemporâneas, depois do antibiótico e do microchip, que são a escada rolante e o manobrista, devem sua existência à preguiça. E não vamos nem falar no controle remoto.
(Se você não desistiu na segunda linha e leu até aqui é porque não tem preguiça. Conheço o seu tipo. É gente como você que causa os problemas do mundo. São vocês que descobrem quando o autor está com preguiça e reaproveita um texto antigo. E isso não é humano!)

Inspirada, Câmara aprova o fim do ‘bolsa pelego’

A Câmara viveu uma noite memorável na última quarta-feira. Num raro surto de inspiração, a maioria dos deputados postou-se ao lado do trabalhador, contra o aparato sindical. Uma astúcia das centrais sindicais brasileiras foi convertida no fim do sonho do peleguismo.

Levou-se a voto um projeto que fora urdido pela nata do sindicalismo e pelo governo companheiro de Lula. A pretexto de legalizar as centrais, a proposta pendurava-as nas arcas do Estado. Pior: eternizava uma iniqüidade chamada imposto sindical.

A coisa funcionaria assim: legalizadas, as centrais passariam a beliscar 10% da prebenda criada há 64 anos, sob Getúlio Vargas. Subtrai um dia de salário por ano de todo trabalhador com carteira assinada. Em 2006, a coisa rendeu cerca de R$ 1 bilhão. Ou seja, seriam borrifados anualmente R$ 100 milhões nas arcas das centrais.

Para morder os de baixo, fez-se um acerto pelo alto. Coube a Lula enviar ao Congresso a medida provisória que estendeu às centrais o “bolsa pelego”, hoje restrito aos sindicatos (60% da arrecadação do imposto sindical); ao governo (20%), às federações (15%) e às confederações (5%).

Na Câmara, providenciou-se um relator amistoso: Vicentinho (PT-SP), ex-presidente da CUT. Ele levou ao plenário tudo o que fora acordado à margem do Congresso. Súbito, o deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) atravessou o samba do sindicalista doido com uma emenda inesperada. Santa emenda!

Carvalho, ex-presidente do Sindicato dos Bancários do DF, propôs que o obrigatório fosse transformado em opcional. Antes de meter a mão no bolso do trabalhador, a máquina sindical terá de obter uma autorização do tungado. Noves fora sete abstenções, a idéia foi aprovada por 215 votos a 161. Beleza!

Houve mais e melhor: aprovou-se uma outra emenda, de autoria de Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP). Atribui ao Tribunal de Contas da União poderes para fiscalizar a aplicação do imposto sindical. Justo, muito justo, justíssimo.

“É golpe”, estrilou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força sindical. A CUT apressou-se em soltar nota oficial. O texto anota uma mentira, esgrime uma ótima tese e conta uma lorota. Primeiro a mentira: a CUT “sempre foi e continuará sendo contra o imposto sindical”. Se fosse assim, não tentaria morder um naco do bolo.

A ótima tese: a CUT protestou contra a manutenção, intacta, da “fonte de recursos” dos sindicatos patronais. De fato, o sindicalismo do patronato serve-se do desconto de 2,5% sobre a folha de pagamento que sustenta o Sistema S. Coisa de mais de R$ 10 bilhões por ano. Sugere-se à CUT a convocação de uma greve geral pelo fim da mamata.

Agora, a lorota: “Sindicato não é órgão de Estado”, diz a CUT. Portanto, não pode ser fiscalizado pelo TCU. “Quem tem de investigar e acompanhar a transparência, a prestação de contas, são os próprios trabalhadores.” Transparência em sindicato é lorota que nem a última do papagaio vai conseguir superar.

As centrais preparam-se agora para erguer barricadas no Senado, para onde o projeto aprovado na Câmara foi enviado. Querem que os senadores restituam as espertezas negociadas nos gabinetes fechados do governo, sem os dois pés-de-cabra aprovados na Câmara. Se ficarem do lado da galera, como se espera, os senadores têm diante de si a oportunidade de fazer na marra uma reforma sindical que Lula eximiu-se de fazer por opção.
Escrito por Josias de Souza às 19h03

ADMINISTRAÇÃO REGULAR

Para o vice-prefeito de Fortaleza, Carlos Veneranda (PDT), a prefeita Luizianne Lins (PT) faz uma administração apenas ´regular´.

Veneranda rompeu com a prefeita recentemente e trocou o PSB pelo PDT. Ele critica a gestão de Luizianne citando a ineficiência do planejamento e das finanças a que ele denomina de ´calcanhar de Aquiles´ da equipe da gestão municipal. ´Hoje a maioria das cidades depende de verbas federais, mas se não tiver um planejamento adequado e um setor de finanças capaz de alocar recursos próprios, as obras não sairão do papel´, argumentou.Ele citou como exemplo, os Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cucas), proposta de campanha de Luizianne que ainda não tiveram execução por conta dos recursos do Governo Federal que não chegaram. Nesse caso, ele propõe que as obras sejam iniciadas com recursos próprios enquanto os recursos federais chegam para que as obras tenha maior celeridade. ´Essa parte da administração deixa muito a desejar´, opinou.Perguntado sobre os rumos que a próxima administração deveria seguir para não repetir os mesmo erros, ele reforçou a idéia: ´o planejamento é importante para que nós possamos direcionar onde a administração quer chegar e quais as políticas a serem adotadas. E nas finanças precisamos analisar como captar recursos e ao mesmo tempo ser bom pagador´.Recém saído do PSB, onde esteve por 17 anos, ele alega que rompeu com a prefeita por ´falta de espaço político´ e por ela ´não cumprir as políticas acordadas na última campanha eleitoral´ em 2004. A principal queixa de Veneranda, militante do movimento negro, é o que ele considera como ´falta de compromisso´ da prefeita com as questões de inclusão racial. Ele destacou que, desde o início da administração procurava a prefeita para negociar um diálogo com a população sobre a inclusão. ´O movimento negro precisa de uma discussão muito mais profunda. Quase nada foi feito. Falta ainda criarmos um conselho para tratar dessas políticas´, defendeu.Ele informou que propôs a realização de uma pesquisa para saber onde estão localizados os negros de Fortaleza para identificar as dificuldades do município e desenvolver as políticas direcionadas. Segundo afirma, a petista não deu a devida atenção aos projetos. Veneranda citou, por exemplo, que há dois anos estava procurando a prefeita para assinar um protocolo de ´cidade-irmã´ com Felisberto Vieira, prefeito de Praia, Capital de Cabo-Verde. ´Nunca tivemos uma resposta da prefeita. Então já que minha caneta não tem esse poder, eu resolvi enviar à Câmara Municipal para que fosse formalizado o convite´, informou. O texto foi entregue à Câmara na sessão da última terça-feira, quando Felisberto esteve em Fortaleza para o lançamento de um seu livro.

Justiça & Filigranas

O Brasil precisa urgentemente deixar de ser o país da impunidade. A coisa está ficando imoral demais, num crescendo assustador. Protegidos pela carapuça constitucional e legal que lhes garante a impunidade e o direito de roubar e até de matar, os nossos dirigentes e políticos nem se preocupam com o que acontece mais abaixo. Nem notam que as leis e a própria constituição acabaram democratizando a impunidade e desmoralizando a Justiça. Hoje é raro alguém que rouba ou mata ir para a cadeia. Ou cumprir uma pena, se acontecer o acidente de uma condenação. Na última semana, em Brasília, tivemos mais uma mostra do quanto é nociva aos cidadãos a nossa legislação processual e penal. Ao volante de um carro, embriagado e portando bebidas, maconha e cocaína no veículo, um professor de educação física entra num ´pega´ e a 150Km mata – assassina, é o termo – três mulheres. Fugiu sem prestar socorro às vítimas. Diante da exuberância de provas contra ele, logo teve a prisão preventiva decretada, pois logo uma desembargadora revogou a prisão, concedendo-lhe um habeas corpus. Ela não precisou analisar o processo, ver o hediondo crime que o homem cometeu. Pouco importava a violência e a brutalidade do verdadeiro assassinato. Apegou-se a uma firula processual: não havia uma folha de papel no processo em que o Ministério Público pedisse a prisão preventiva do criminoso. E na hora em que escrevemos o senhor Paulo César Timponi, que já tem antecedente criminal como traficante, estava na rua, solto para responder em liberdade pelo tríplice homicídio. Graças às filigranas da lei. No Campo da Esperança, as famílias choravam as mortas. Um detalhe: Timponi é branco e rico, mora numa belíssima mansão do lago de Brasília. O que talvez explique por que não ficou preso pelo crime anterior.

O que move a Humanidade

por Luis Fernando Veríssimo

Existem muitas teorias sobre o que fez o Homem dominar o planeta e construir civilizações enquanto o joão de barro, por exemplo, só consegue construir conjugados, e levar grandes mulheres para a cama enquanto o máximo que um gorila conseguiu foi segurar a mão da Sigourney Weaver. Dizem que o cavalo é mais bonito do que o Homem e a barata é mais resistente, mas não há notícia de uma fuga a tres vozes composta por um cavalo ou uma liga de aço inventada por uma barata. Tudo se deveria ao fato de uma linhagem particular de macacos ter desenvolvido o dedão opositor, com o qual conseguiu descascar uma banana e segurar um tacape, as condições primordiais para dominar o mundo. A vaidade, outra característica exclusivamente humana (o pavão também é vaidoso, mas não gasta uma fortuna com as penas dos outros para fazer sua cauda) também teria contribuido para que o Homem prevalecesse, pois de nada lhe adiantariam suas façanhas com o polegar, e com as mulheres, se não pudesse contar depois. Dai nasceu a linguagem, e com ela a mentira, e Homem estava feito.
Mas eu acho que a verdadeira força motriz do desenvolvimento humano, a razão da superioridade e do sucesso do Homem, foi a preguiça. Com a possivel exceção da própria preguiça, nenhum outro animal é tão preguiçoso quanto o Homem. O desenvolvimento do dedão opositor nasceu da preguiça de combinar dentes e garras para comer e ainda ter que limpar os farelos do peito depois. A linguagem é fruto da preguiça de roncar, grunhir, pular e bater no peito para se comunicar com os outros e, mesmo, ninguém aguentava mais mímica. A técnica é fruto da preguiça. O que são o estilingue, a flecha e a lança senão maneiras de não precisar ir lá e esgoelar a caça ou um semelhante com as mãos, arriscando-se a levar a pior e perder a viagem? O que estaria pensando o inventor da roda senão no eventual desenvolvimento da charrete que,atrelada a um animal menos preguiçoso do que ele, o levaria a toda parte sem que ele precisase correr ou caminhar? Dizem que a agressividade e o gosto pela guerra determinaram o avanço científico da humanidade e se é verdade que a maioria das invenções modernas nasceu da necessidade militar, também é verdade que o objetivo de cada nova arma era o de diminuir o esforço necessario para matar os outros. O produto supremo da ciência militar, o foguete intercontinental com ogivas nucleares múltiplas, é uma obra prima da preguiça aplicada: apertando-se um único botão se mata milhões de outros sem sair da poltrona. Uma combinação perfeita do instinto assassino e do comodismo. A apoteóse do dedão.
Toda a história das telecomunicações, desde os tambores tribais e seus códigos primitivos até os sinais de TV e a internet, se deve ao desejo humano de enviar a mensagem em vez de ir entregá-la pessoalmente ou mandar um guri resmungão. A fome de riqueza e poder do Homem não passa da vontade de poder mandar outros fazerem o que ele tem preguiça de fazer, seja trazer os seus chinelos ou construir as suas pirâmides. A quimica moderna á‚á filha da alquimia, que era a tentativa de ter o ouro sem ter que procurá-lo, ou trabalhar para merecê-lo. A fisica e a filosofia são produtos da contemplação, que é um subproduto da indolência e uma alternativa para a sesta. A grande arte também se deve à preguiça. Não por acaso, o que é considerada a maior realizaçao da melhor época da arte ocidental, o teto da Capela Sistina, foi feita pelo Michelangelo deitado. Proust escreveu o “Em busca do tempo perdido” deitado. Vá lá, recostado. As duas maiores invenções contemporâneas, depois do antibiótico e do microchip, que são a escada rolante e o manobrista, devem sua existência à preguiça. E não vamos nem falar no controle remoto.
(Se você não desistiu na segunda linha e leu até aqui é porque não tem preguiça. Conheço o seu tipo. É gente como você que causa os problemas do mundo. São vocês que descobrem quando o autor está com preguiça e reaproveita um texto antigo. E isso não é humano!)

Inspirada, Câmara aprova o fim do ‘bolsa pelego’

A Câmara viveu uma noite memorável na última quarta-feira. Num raro surto de inspiração, a maioria dos deputados postou-se ao lado do trabalhador, contra o aparato sindical. Uma astúcia das centrais sindicais brasileiras foi convertida no fim do sonho do peleguismo.

Levou-se a voto um projeto que fora urdido pela nata do sindicalismo e pelo governo companheiro de Lula. A pretexto de legalizar as centrais, a proposta pendurava-as nas arcas do Estado. Pior: eternizava uma iniqüidade chamada imposto sindical.

A coisa funcionaria assim: legalizadas, as centrais passariam a beliscar 10% da prebenda criada há 64 anos, sob Getúlio Vargas. Subtrai um dia de salário por ano de todo trabalhador com carteira assinada. Em 2006, a coisa rendeu cerca de R$ 1 bilhão. Ou seja, seriam borrifados anualmente R$ 100 milhões nas arcas das centrais.

Para morder os de baixo, fez-se um acerto pelo alto. Coube a Lula enviar ao Congresso a medida provisória que estendeu às centrais o “bolsa pelego”, hoje restrito aos sindicatos (60% da arrecadação do imposto sindical); ao governo (20%), às federações (15%) e às confederações (5%).

Na Câmara, providenciou-se um relator amistoso: Vicentinho (PT-SP), ex-presidente da CUT. Ele levou ao plenário tudo o que fora acordado à margem do Congresso. Súbito, o deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) atravessou o samba do sindicalista doido com uma emenda inesperada. Santa emenda!

Carvalho, ex-presidente do Sindicato dos Bancários do DF, propôs que o obrigatório fosse transformado em opcional. Antes de meter a mão no bolso do trabalhador, a máquina sindical terá de obter uma autorização do tungado. Noves fora sete abstenções, a idéia foi aprovada por 215 votos a 161. Beleza!

Houve mais e melhor: aprovou-se uma outra emenda, de autoria de Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP). Atribui ao Tribunal de Contas da União poderes para fiscalizar a aplicação do imposto sindical. Justo, muito justo, justíssimo.

“É golpe”, estrilou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força sindical. A CUT apressou-se em soltar nota oficial. O texto anota uma mentira, esgrime uma ótima tese e conta uma lorota. Primeiro a mentira: a CUT “sempre foi e continuará sendo contra o imposto sindical”. Se fosse assim, não tentaria morder um naco do bolo.

A ótima tese: a CUT protestou contra a manutenção, intacta, da “fonte de recursos” dos sindicatos patronais. De fato, o sindicalismo do patronato serve-se do desconto de 2,5% sobre a folha de pagamento que sustenta o Sistema S. Coisa de mais de R$ 10 bilhões por ano. Sugere-se à CUT a convocação de uma greve geral pelo fim da mamata.

Agora, a lorota: “Sindicato não é órgão de Estado”, diz a CUT. Portanto, não pode ser fiscalizado pelo TCU. “Quem tem de investigar e acompanhar a transparência, a prestação de contas, são os próprios trabalhadores.” Transparência em sindicato é lorota que nem a última do papagaio vai conseguir superar.

As centrais preparam-se agora para erguer barricadas no Senado, para onde o projeto aprovado na Câmara foi enviado. Querem que os senadores restituam as espertezas negociadas nos gabinetes fechados do governo, sem os dois pés-de-cabra aprovados na Câmara. Se ficarem do lado da galera, como se espera, os senadores têm diante de si a oportunidade de fazer na marra uma reforma sindical que Lula eximiu-se de fazer por opção.
Escrito por Josias de Souza às 19h03

ADMINISTRAÇÃO REGULAR

Para o vice-prefeito de Fortaleza, Carlos Veneranda (PDT), a prefeita Luizianne Lins (PT) faz uma administração apenas ´regular´.

Veneranda rompeu com a prefeita recentemente e trocou o PSB pelo PDT. Ele critica a gestão de Luizianne citando a ineficiência do planejamento e das finanças a que ele denomina de ´calcanhar de Aquiles´ da equipe da gestão municipal. ´Hoje a maioria das cidades depende de verbas federais, mas se não tiver um planejamento adequado e um setor de finanças capaz de alocar recursos próprios, as obras não sairão do papel´, argumentou.Ele citou como exemplo, os Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cucas), proposta de campanha de Luizianne que ainda não tiveram execução por conta dos recursos do Governo Federal que não chegaram. Nesse caso, ele propõe que as obras sejam iniciadas com recursos próprios enquanto os recursos federais chegam para que as obras tenha maior celeridade. ´Essa parte da administração deixa muito a desejar´, opinou.Perguntado sobre os rumos que a próxima administração deveria seguir para não repetir os mesmo erros, ele reforçou a idéia: ´o planejamento é importante para que nós possamos direcionar onde a administração quer chegar e quais as políticas a serem adotadas. E nas finanças precisamos analisar como captar recursos e ao mesmo tempo ser bom pagador´.Recém saído do PSB, onde esteve por 17 anos, ele alega que rompeu com a prefeita por ´falta de espaço político´ e por ela ´não cumprir as políticas acordadas na última campanha eleitoral´ em 2004. A principal queixa de Veneranda, militante do movimento negro, é o que ele considera como ´falta de compromisso´ da prefeita com as questões de inclusão racial. Ele destacou que, desde o início da administração procurava a prefeita para negociar um diálogo com a população sobre a inclusão. ´O movimento negro precisa de uma discussão muito mais profunda. Quase nada foi feito. Falta ainda criarmos um conselho para tratar dessas políticas´, defendeu.Ele informou que propôs a realização de uma pesquisa para saber onde estão localizados os negros de Fortaleza para identificar as dificuldades do município e desenvolver as políticas direcionadas. Segundo afirma, a petista não deu a devida atenção aos projetos. Veneranda citou, por exemplo, que há dois anos estava procurando a prefeita para assinar um protocolo de ´cidade-irmã´ com Felisberto Vieira, prefeito de Praia, Capital de Cabo-Verde. ´Nunca tivemos uma resposta da prefeita. Então já que minha caneta não tem esse poder, eu resolvi enviar à Câmara Municipal para que fosse formalizado o convite´, informou. O texto foi entregue à Câmara na sessão da última terça-feira, quando Felisberto esteve em Fortaleza para o lançamento de um seu livro.

Justiça & Filigranas

O Brasil precisa urgentemente deixar de ser o país da impunidade. A coisa está ficando imoral demais, num crescendo assustador. Protegidos pela carapuça constitucional e legal que lhes garante a impunidade e o direito de roubar e até de matar, os nossos dirigentes e políticos nem se preocupam com o que acontece mais abaixo. Nem notam que as leis e a própria constituição acabaram democratizando a impunidade e desmoralizando a Justiça. Hoje é raro alguém que rouba ou mata ir para a cadeia. Ou cumprir uma pena, se acontecer o acidente de uma condenação. Na última semana, em Brasília, tivemos mais uma mostra do quanto é nociva aos cidadãos a nossa legislação processual e penal. Ao volante de um carro, embriagado e portando bebidas, maconha e cocaína no veículo, um professor de educação física entra num ´pega´ e a 150Km mata – assassina, é o termo – três mulheres. Fugiu sem prestar socorro às vítimas. Diante da exuberância de provas contra ele, logo teve a prisão preventiva decretada, pois logo uma desembargadora revogou a prisão, concedendo-lhe um habeas corpus. Ela não precisou analisar o processo, ver o hediondo crime que o homem cometeu. Pouco importava a violência e a brutalidade do verdadeiro assassinato. Apegou-se a uma firula processual: não havia uma folha de papel no processo em que o Ministério Público pedisse a prisão preventiva do criminoso. E na hora em que escrevemos o senhor Paulo César Timponi, que já tem antecedente criminal como traficante, estava na rua, solto para responder em liberdade pelo tríplice homicídio. Graças às filigranas da lei. No Campo da Esperança, as famílias choravam as mortas. Um detalhe: Timponi é branco e rico, mora numa belíssima mansão do lago de Brasília. O que talvez explique por que não ficou preso pelo crime anterior.