Na próxima sexta-feira, dia 1º, o STF volta das férias, com agenda cheia.
Além do prosseguimento do processo do mensalão, interrompido por causa das férias do relator, há também o julgamento do mérito dos dois habeas corpus concedidos pelo presidente da corte, Gilmar Mendes, ao banqueiro Daniel Dantas.
Mas o caso mais espinhoso (tendo em vista os aspectos políticos que o cercam) é o do deputado Antonio Palocci.
O presidente Lula tem dado várias demonstrações de que quer Palocci de volta ao ministério, neste momento em que é importante monitorar de perto o problema da inflação.
(Tem gente no Ministério da Fazenda que não dorme há quase um mês.)
Os casos contra Palocci são dois: em denúncia encaminhada ao STF em 2006 englobando 14 mil páginas contendo informações de documentos apreendidos, escutas telefônicas, quebra de sigilo e depoimentos, o procurador-geral da República, Antonio Fernando, acusa Antonio Palocci de participar de um esquema de fraudes em licitações para coleta de lixo, superfaturamento de preços e arrecadação ilegal para o PT durante o período em que foi prefeito de Ribeirão Preto.(Aquele caso que também envolvia o pagamento a Palocci de propina mensal de R$ 50 mil, pela empresa Leão & Leão, lembram-se?) O desvio total apontado nos cofres da Prefeitura foi de R$ 30 milhões, entre 2001 e 2004.
Os crimes pelos quais Palocci é acusado são: formação de quadrilha, falsificação de documento público, lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores.
No último dia 1º de julho, o relator no STF, ministro Joaquim Barbosa (o mesmo do mensalão), conseguiu o desmembramento do inquérito, porque dos dez indiciados, apenas Palocci tem direito a foro privilegiado (conveniente, não é mesmo?)
Quando julgar o caso, o STF pode determinar o arquivamento do processo ou pedir novas diligências. (Nos corredores da Brasília, afirmam que rola um certo estresse entre o ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, e o procurador-geral da República, Antonio Fernando, chefe do Ministério Público Federal.)
Mas há outro caso contra Palocci, este igualmente grave: o caso de violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo, que ousou afirmar que o então ministro Palocci freqüentava, sim, aquela casa em Brasília onde aconteciam negócios esquisitos e mulheres idem.
(Este é um crime gravíssimo, porque um agente público, sobretudo um ministro da Fazenda, não tem o direito, numa democracia, de usar a mão pesada do Estado para intimidar um cidadão indefeso.)
Neste episódio, Antonio Palocci foi denunciado pelo procurador-geral da República por prevaricação, quebras de sigilo bancário e funcional, além de denunciação caluniosa.
Se algum desses processos for adiante, fica delicada a volta de Palocci ao governo Lula.
Não será impossível, dada a pouca importância que as autoridades parecem dar a essas questões éticas.
Vamos ver qual será o próximo contorcionismo semântico especialmente fabricado para justificar o injustificável.
por Lúcia Hippolito