Arquivo mensal: abril 2010

Os dois países de Lula

Um país está indo bem, com a cabeça no lugar.

O presidente do Banco Central, com a austeridade de um monge, preside a reunião de um comitê de sábios financeiros que aumenta,por unanimidade, em 0,75% a taxa básica de juros, porque a inflação de demanda ameaça ressuscitar o velho e aparentemente adormecido dragão da inflação.

Um dia antes,Henrique Meirelles pontificou: “A autoridade monetária não precisa provar mais nada a ninguém.As decisões de política monetária são técnicas”.

País sério,esse país de Lula.

No Supremo Tribunal Federal, os juízes da mais alta corte do País decidiram que a Lei da Anistia não pode retroagir e excluir de seus efeitos os crimes de tortura, como a OAB queria.O Procurador Geral da República defendeu a posição do governo de que os efeitos da lei só poderiam ser modificados por outra lei aprovada pelo Congresso Nacional.

País maduro, esse país de Lula.

Na verdade, esse é um dos países de Lula- aquele mergulhado na realidade da vida cotidiana,que busca viver racionalmente, ao largo das paixões partidárias,sem malabarismo e sem feitiçarias,que procura-com percalços aqui e ali- seguir uma linha política e econômica pautada por um senso de responsabilidade que não tem nada a ver com as bravatas (na expressão dele) de campanha eleitoral. Um verdadeiro governo de continuidade-nenhuma linha mestra dos governos que o antecederam foi modificada,a não ser no discurso. E como se sabe, discursos podem mudar percepções, não a realidade.

O outro país de Lula, que ele mesmo manipula e estimula, é o país dos lulistas, que vivem num permanente e exaltado clima de recreio ideológico, brincando de arquitetar a reforma definitiva e profunda da sociedade, e que vão erigindo seus castelos de areia em cima,na maioria das vezes, de uma utopia socialista cujos escombros o resto do mundo civilizado já enterrou.Lula incentiva os seus lulistas a brincar com as bolhas de sabão, até que elas estourem sozinhas.Depois, sábio e ladino como é, dá de costas, deixa o recreio dos meninos para trás, e volta a cuidar da vida real.

As bolhas de sabão do recreio são os planos de estabelecer ‘controles sociais’ sobre a vida dos outros e sobre os meios de comunicação, de enterrar a anistia unilateralmente e punir só um dos lados,de apoiar as invasões de terra do MST, de estabelecer uma política externa Sul-Sul de efeitos pouco mais do que patéticos. O Lula lulista incendeia a retórica para animar o recreio ao mesmo tempo em que o Lula presidente, com a outra mão, cuida de não deixar o País sair dos trilhos.

Ele mesmo já disse,mas poucos de seus seguidores cuidaram de ouvi-lo e de refletir sobre o significado dessas palavras: “De vez em quando, acho que foi obra de Deus não permitir que eu ganhasse em 1989. Se eu chego em 1989 com a cabeça do jeito que eu pensava, ou eu tinha feito uma revolução no País ou tinha caído no dia seguinte.“

Lula está em 2010, mas a massa dos lulistas militantes está em 1989. E ele os mantém lá por puro cálculo político eleitoral. É mais fácil moldar as mentes quando elas estão em elevada temperatura, em grau de fusão. Manter o time pressionando no ataque, mesmo sem fazer gols, é a melhor maneira de deixar a arquibancada em excitação permanente.

O país de Lula é melhor que o país dos lulistas.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. Escreverá sempre às sextas-feiras. E.mail: svaia@uol.com.br

Os dois países de Lula

Um país está indo bem, com a cabeça no lugar.

O presidente do Banco Central, com a austeridade de um monge, preside a reunião de um comitê de sábios financeiros que aumenta,por unanimidade, em 0,75% a taxa básica de juros, porque a inflação de demanda ameaça ressuscitar o velho e aparentemente adormecido dragão da inflação.

Um dia antes,Henrique Meirelles pontificou: “A autoridade monetária não precisa provar mais nada a ninguém.As decisões de política monetária são técnicas”.

País sério,esse país de Lula.

No Supremo Tribunal Federal, os juízes da mais alta corte do País decidiram que a Lei da Anistia não pode retroagir e excluir de seus efeitos os crimes de tortura, como a OAB queria.O Procurador Geral da República defendeu a posição do governo de que os efeitos da lei só poderiam ser modificados por outra lei aprovada pelo Congresso Nacional.

País maduro, esse país de Lula.

Na verdade, esse é um dos países de Lula- aquele mergulhado na realidade da vida cotidiana,que busca viver racionalmente, ao largo das paixões partidárias,sem malabarismo e sem feitiçarias,que procura-com percalços aqui e ali- seguir uma linha política e econômica pautada por um senso de responsabilidade que não tem nada a ver com as bravatas (na expressão dele) de campanha eleitoral. Um verdadeiro governo de continuidade-nenhuma linha mestra dos governos que o antecederam foi modificada,a não ser no discurso. E como se sabe, discursos podem mudar percepções, não a realidade.

O outro país de Lula, que ele mesmo manipula e estimula, é o país dos lulistas, que vivem num permanente e exaltado clima de recreio ideológico, brincando de arquitetar a reforma definitiva e profunda da sociedade, e que vão erigindo seus castelos de areia em cima,na maioria das vezes, de uma utopia socialista cujos escombros o resto do mundo civilizado já enterrou.Lula incentiva os seus lulistas a brincar com as bolhas de sabão, até que elas estourem sozinhas.Depois, sábio e ladino como é, dá de costas, deixa o recreio dos meninos para trás, e volta a cuidar da vida real.

As bolhas de sabão do recreio são os planos de estabelecer ‘controles sociais’ sobre a vida dos outros e sobre os meios de comunicação, de enterrar a anistia unilateralmente e punir só um dos lados,de apoiar as invasões de terra do MST, de estabelecer uma política externa Sul-Sul de efeitos pouco mais do que patéticos. O Lula lulista incendeia a retórica para animar o recreio ao mesmo tempo em que o Lula presidente, com a outra mão, cuida de não deixar o País sair dos trilhos.

Ele mesmo já disse,mas poucos de seus seguidores cuidaram de ouvi-lo e de refletir sobre o significado dessas palavras: “De vez em quando, acho que foi obra de Deus não permitir que eu ganhasse em 1989. Se eu chego em 1989 com a cabeça do jeito que eu pensava, ou eu tinha feito uma revolução no País ou tinha caído no dia seguinte.“

Lula está em 2010, mas a massa dos lulistas militantes está em 1989. E ele os mantém lá por puro cálculo político eleitoral. É mais fácil moldar as mentes quando elas estão em elevada temperatura, em grau de fusão. Manter o time pressionando no ataque, mesmo sem fazer gols, é a melhor maneira de deixar a arquibancada em excitação permanente.

O país de Lula é melhor que o país dos lulistas.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. Escreverá sempre às sextas-feiras. E.mail: svaia@uol.com.br

Pesquisa faz de Lula ‘pivô’ da eleição do continuísmo


Ao ratificar a vantagem do tucano José Serra sobre a petista Dilma Rousseff, agora de dez pontos percentuais, o Datafolha reforça uma evidência incontornável.

O protagonista da sucessão de Lula é, por ora, o próprio Lula. Mesmo privado pela Constituição de frequentar a cédula de 2010, o presidente é o pivô da eleição.


No topo da pesquisa, com 38%, Serra tornou-se um candidato sui generis. Representa a oposição. Mas não se opõe a Lula.

Na segunda colocação, com 28%, Dilma tenta provar-se capaz de caminhar com as próprias pernas. Mas não logrou livrar-se de seu vício. É “lulodependente”.

A sucessão é guiada pelo signo da continuidade. Dilma leva à vitrine o que foi feito. Serra aferra-se à cantilena de que pode fazer mais.


Para compreender o que está por vir, o observador deve prestar atenção a um dado periférico da pesquisa.

O Datafolha informa, desde dezembro, que há na praça algo como 14% de eleitores que reúnem três características básicas.

Declaram que, com certeza, votariam no candidato apoiado por Lula. Não são, ainda, eleitores de Dilma. Nem sabem que ela é candidata.

O grosso desse eleitorado está assentado no Nordeste. É gente pobre, com pouco ou nenhum acesso à informação.

Pois bem, suponha-se que esses eleitores, ao tomar conhecimento da existência de Dilma, optem por votar nela. A candidata de Lula vai a 42%.


Foi precisamente com esse percentual de votos (42%) que Lula prevaleceu sobre Serra no segundo turno de 2002.

Em 2006, Lula bateu o tucano Geraldo Alckmin, também no segundo round, com 44,5%.


Não é por outra razão que Serra joga suas fichas no estreitamento de relações com Aécio Neves, o grão-duque do tucanato de Minas Gerais.

Serra pretende retirar das urnas de São Paulo e de Minas, os dois maiores colégios eleitorais do país, os votos que lhe faltarão no Nordeste.


Convém observar, de resto, o destino de Ciro Gomes, pseudocandidato do PSB. O Datafolha informa que Ciro (9%) virou uma espécie de sub-Marina Silva (10%).

Não são negligenciáveis as chances de que Ciro seja empurrado para fora do tabuleiro. Para onde vão os seus votos?


O Datafolha informa que, sem Ciro, Serra sobe quatro pontos. Vai a 42%. Dilma sobe dois (30%). Marina também escala dois (12%). Juntas, teriam 42%.

Ou seja, se a eleição fosse hoje, Serra teria, sozinho, o mesmo tamanho de Dilma e Marina somadas. Daí o protagonismo de Lula.


Para seduzir os 14% que se dispõem a votar no nome indicado pelo presidente superpopular, o “oposicionista” Serra terá de operar uma mágica: vender a ideia de que é mais continuísta que a própria Dilma.

Cid refuga candidato do PT ao Senado

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Ceará – Cid refuga candidato do PT ao Senado
Pressionado pela prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), para que uma das vagas de senador na chapa seja do ex-ministro José Pimentel, o governador Cid Gomes (PSB) disse que não vai ceder às chantagens do PT. Cid não quer Pimentel na chapa e diz que não tem compromissos com o petista. Seus candidatos são Tasso Jereissati (PMDB) e Eunício Oliveira (PMDB).

Pesquisa faz de Lula ‘pivô’ da eleição do continuísmo


Ao ratificar a vantagem do tucano José Serra sobre a petista Dilma Rousseff, agora de dez pontos percentuais, o Datafolha reforça uma evidência incontornável.

O protagonista da sucessão de Lula é, por ora, o próprio Lula. Mesmo privado pela Constituição de frequentar a cédula de 2010, o presidente é o pivô da eleição.


No topo da pesquisa, com 38%, Serra tornou-se um candidato sui generis. Representa a oposição. Mas não se opõe a Lula.

Na segunda colocação, com 28%, Dilma tenta provar-se capaz de caminhar com as próprias pernas. Mas não logrou livrar-se de seu vício. É “lulodependente”.

A sucessão é guiada pelo signo da continuidade. Dilma leva à vitrine o que foi feito. Serra aferra-se à cantilena de que pode fazer mais.


Para compreender o que está por vir, o observador deve prestar atenção a um dado periférico da pesquisa.

O Datafolha informa, desde dezembro, que há na praça algo como 14% de eleitores que reúnem três características básicas.

Declaram que, com certeza, votariam no candidato apoiado por Lula. Não são, ainda, eleitores de Dilma. Nem sabem que ela é candidata.

O grosso desse eleitorado está assentado no Nordeste. É gente pobre, com pouco ou nenhum acesso à informação.

Pois bem, suponha-se que esses eleitores, ao tomar conhecimento da existência de Dilma, optem por votar nela. A candidata de Lula vai a 42%.


Foi precisamente com esse percentual de votos (42%) que Lula prevaleceu sobre Serra no segundo turno de 2002.

Em 2006, Lula bateu o tucano Geraldo Alckmin, também no segundo round, com 44,5%.


Não é por outra razão que Serra joga suas fichas no estreitamento de relações com Aécio Neves, o grão-duque do tucanato de Minas Gerais.

Serra pretende retirar das urnas de São Paulo e de Minas, os dois maiores colégios eleitorais do país, os votos que lhe faltarão no Nordeste.


Convém observar, de resto, o destino de Ciro Gomes, pseudocandidato do PSB. O Datafolha informa que Ciro (9%) virou uma espécie de sub-Marina Silva (10%).

Não são negligenciáveis as chances de que Ciro seja empurrado para fora do tabuleiro. Para onde vão os seus votos?


O Datafolha informa que, sem Ciro, Serra sobe quatro pontos. Vai a 42%. Dilma sobe dois (30%). Marina também escala dois (12%). Juntas, teriam 42%.

Ou seja, se a eleição fosse hoje, Serra teria, sozinho, o mesmo tamanho de Dilma e Marina somadas. Daí o protagonismo de Lula.


Para seduzir os 14% que se dispõem a votar no nome indicado pelo presidente superpopular, o “oposicionista” Serra terá de operar uma mágica: vender a ideia de que é mais continuísta que a própria Dilma.

Cid refuga candidato do PT ao Senado

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Ceará – Cid refuga candidato do PT ao Senado
Pressionado pela prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), para que uma das vagas de senador na chapa seja do ex-ministro José Pimentel, o governador Cid Gomes (PSB) disse que não vai ceder às chantagens do PT. Cid não quer Pimentel na chapa e diz que não tem compromissos com o petista. Seus candidatos são Tasso Jereissati (PMDB) e Eunício Oliveira (PMDB).

Ceará – Cid Gomes falta à homenagem a Dilma

Dilma Rousseff foi à Câmara Municipal de Fortaleza para receber o título de cidadã da cidade.

Convidado, o governador Cid Gomes (PSB), irmão do deputado Ciro Gomes (PSB), não compareceu. Mandou seu vice, Francisco Pinheiro (PT).

O responsável pelo roteiro de viagens de Dilma deveria ser premiado com um aumento de salário.

Cid e a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, do PT, estão às turras.

Luizianne procura uma aliança com o PR de Lúcio Alcântara para lançar candidato contra Cid.

Cid procura se entender com o senador Tasso Jereissati (PSDB). Se esse entendimento der certo, Cid estará no palanque de José Serra.

Esta tarde, na residência oficial do governador do Ceará, houve um encontro de empresários para discutir a montagem de um estaleiro em Fortaleza.

Cid é a favor do estaleiro. Luizianne, contra.

Convidada por Cid, Luizianne compareceu. Cid faltou. Mandou seu chefe da Casa Civil.

Visita de Dilma ao Ceará é afronta a Ciro, diz Tasso

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que a visita a Fortaleza da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, é “um afronta” ao deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), seu amigo de mais de duas décadas.

Em tom de ironia, disse achar proveitosa a visita da petista para que ela conheça o estado:

– Acho bom que a candidata Dilma conheça o Ceará, conheça as pessoas aqui e o ambiente. Mas uma visita dessa é quase um afronta direta ao Ciro – declarou nesta segunda-feira, depois de falar no XXVII Congresso Estadual de Vereadores.

O PSDB ainda não decidiu se terá candidato próprio ao governo do Ceará. A pré-candidatura do deputado Ciro Gomes, se confirmada, pode reaproximar Tasso Jereissati do governador Cid Gomes, atualmente aliado de primeira ordem do PT cearense. Em troca do apoio à recondução de Tasso Jereissati ao Senado, o PSDB trabalharia pela reeleição do governador Cid Gomes.

O PT ameaça romper com Cid Gomes, lançando candidato próprio ao governo ou apoiando outro nome, diante da presença do PSDB no arco de aliança, mesmo que informalmente. Recentemente, Tasso teria declarado que para fechar acordo com o PSB faltariam apenas “alguns arranjos”. Hoje ele completou:

– Faltam arranjos fundamentais que possam definir isso – disse.