Arquivo mensal: maio 2010

Marina com fé

Podem anotar. Marina Silva vai surpreender. Com 51 quilos e 52 anos, ela não é nem de longe a figura frágil que aparenta ser. Para começar, sua biografia é um testemunho de superação. Sua decantada fé? Ora, a ciência anda buscando o significado desse valioso sentimento. Que, segundo pesquisadores, trata-se de um combustível poderoso que impulsiona as pessoas para uma vida melhor.

“Mas tem a ver com religiosidade!”, dizem. Qual o problema? “Ela (Marina) é conservadora!”, gritam. Por acaso Lula não é conservador, principalmente em matéria de religiosidade? E Dilma, será que é ateia? E Serra o que é? Católico ou do candomblé? Ah, a petista e o tucano também podem ser islamitas, kardecistas… Ou agnósticos. Então, tá. Cada pré-candidato com sua religião, seu Deus ou sem ele.
Longe de ser uma fundamentalista ou intolerante, Marina é, sim, uma mulher de fé. E parece-me que esta fé tem a ver com sua energia extraordinária na busca de um aprendizado constante. Que não desperdiça nem desdenha de lições do passado. Até porque ela é formada em História. Mas há quem não consiga ou se recuse, por preconceito, a acompanhar suas idéias avançadas.

Há pessoas que nem se dão ao trabalho de perguntar: o que é essa tal sustentabilidade? No seu discurso durante a convenção do Partido Verde, no domingo, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o empresário Guilherme Leal (dono da Natura), lançado pré-candidato a vice-presidente da pré-candidata Marina, tinha uma resposta na ponta da língua: “Não se conhece lucro sustentável num modelo econômico predatório.” Seja qual for. As crises mundiais comprovam.

O que não quer dizer que sustentabilidade tenha a ver apenas com economia. Tem também com políticas sociais, ambientais, de segurança pública, de cultura. E ética. Como se materializa isso? Vencendo desafios. Uma das bandeiras preferidas da pré-candidata verde: a igualdade de oportunidades para todas as pessoas desenvolverem suas potencialidades. Ela crê no ser humano como um sujeito desejoso de fazer suas próprias escolhas; no momento certo.

Talvez por isso transmita confiança. Que se saiba, não foi pega em mentira. Marina diz muitas coisas boas de se ouvir. Por exemplo, a de que não se faz política por negação. Não tem medo de apontar os acertos dos outros, argumentar e explicar porque os defende. Citando, por coerência, acertos de Fernando Henrique e Lula. Totalmente à vontade.

Em resumo, seu projeto de governo não é de poder pelo poder. Afinal, os governantes são eleitos e pagos para servir ao país. Na proposta de Marina não cabe um líder que queira impor um destino ao povo. Ou se achar o máximo. “Temos que aprender e nos dispor a coautorias, em vez da exclusividade do feito. Essa é a liderança do século XXI.”

Ela entende que na pós-modernidade em que vivemos é preciso cada vez mais criatividade. Principalmente na educação. De que forma? Manejando o conhecimento; sem encastelá-lo ou petrificá-lo. Porque tudo neste planeta tem a ver com tudo. Olha a crise econômica europeia mostrando a necessidade de uma política social de terceira geração.

E aqui? Marina deu seu recado de esperança. Com emoção: “Um Brasil mais justo, mais harmônico e sustentável é possível.” Haja fé.

Marina com fé

Podem anotar. Marina Silva vai surpreender. Com 51 quilos e 52 anos, ela não é nem de longe a figura frágil que aparenta ser. Para começar, sua biografia é um testemunho de superação. Sua decantada fé? Ora, a ciência anda buscando o significado desse valioso sentimento. Que, segundo pesquisadores, trata-se de um combustível poderoso que impulsiona as pessoas para uma vida melhor.

“Mas tem a ver com religiosidade!”, dizem. Qual o problema? “Ela (Marina) é conservadora!”, gritam. Por acaso Lula não é conservador, principalmente em matéria de religiosidade? E Dilma, será que é ateia? E Serra o que é? Católico ou do candomblé? Ah, a petista e o tucano também podem ser islamitas, kardecistas… Ou agnósticos. Então, tá. Cada pré-candidato com sua religião, seu Deus ou sem ele.
Longe de ser uma fundamentalista ou intolerante, Marina é, sim, uma mulher de fé. E parece-me que esta fé tem a ver com sua energia extraordinária na busca de um aprendizado constante. Que não desperdiça nem desdenha de lições do passado. Até porque ela é formada em História. Mas há quem não consiga ou se recuse, por preconceito, a acompanhar suas idéias avançadas.

Há pessoas que nem se dão ao trabalho de perguntar: o que é essa tal sustentabilidade? No seu discurso durante a convenção do Partido Verde, no domingo, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o empresário Guilherme Leal (dono da Natura), lançado pré-candidato a vice-presidente da pré-candidata Marina, tinha uma resposta na ponta da língua: “Não se conhece lucro sustentável num modelo econômico predatório.” Seja qual for. As crises mundiais comprovam.

O que não quer dizer que sustentabilidade tenha a ver apenas com economia. Tem também com políticas sociais, ambientais, de segurança pública, de cultura. E ética. Como se materializa isso? Vencendo desafios. Uma das bandeiras preferidas da pré-candidata verde: a igualdade de oportunidades para todas as pessoas desenvolverem suas potencialidades. Ela crê no ser humano como um sujeito desejoso de fazer suas próprias escolhas; no momento certo.

Talvez por isso transmita confiança. Que se saiba, não foi pega em mentira. Marina diz muitas coisas boas de se ouvir. Por exemplo, a de que não se faz política por negação. Não tem medo de apontar os acertos dos outros, argumentar e explicar porque os defende. Citando, por coerência, acertos de Fernando Henrique e Lula. Totalmente à vontade.

Em resumo, seu projeto de governo não é de poder pelo poder. Afinal, os governantes são eleitos e pagos para servir ao país. Na proposta de Marina não cabe um líder que queira impor um destino ao povo. Ou se achar o máximo. “Temos que aprender e nos dispor a coautorias, em vez da exclusividade do feito. Essa é a liderança do século XXI.”

Ela entende que na pós-modernidade em que vivemos é preciso cada vez mais criatividade. Principalmente na educação. De que forma? Manejando o conhecimento; sem encastelá-lo ou petrificá-lo. Porque tudo neste planeta tem a ver com tudo. Olha a crise econômica europeia mostrando a necessidade de uma política social de terceira geração.

E aqui? Marina deu seu recado de esperança. Com emoção: “Um Brasil mais justo, mais harmônico e sustentável é possível.” Haja fé.

Serra corteja os ‘órfãos’ de Ciro em viagem ao Ceará

O presidenciável tucano José Serra inicia nesta segunda (17) uma viagem de dois dias ao Ceará. Vai testar o apoio do grão-duque do tucanato cearense, Tasso Jereissati, que se negou a apoiá-lo na cruzada presidencial de 2002. Terá, de resto, a oportunidade de cortejar o eleitorado de Ciro Gomes (PSB), arrancado da corrida sucessória em articulação urdida por Lula.

Ciro liderava as pesquisas no Ceará no instante em que o PSB, cedendo às pressões de Lula, passou a candidatura dele na lâmina.

Para sorte de Serra, o eleitor de Ciro, seu desafeto, se confunde com o de Tasso, seu neo-aliado.

Para azar de Serra, os eleitores em disputa são, em sua maioria, clientes do Bolsa Família.

É gente que, ainda que se disponha a devolver Tasso ao Senado, será sensível aos apelos de Lula ‘Cabo Eleitoral’ da Silva em favor de Dilma Rousseff.

O primeiro estágio da visita de Serra é a região do Cariri. Vai visitar três municípios, sempre com Tasso a tiracolo.Vai, primeiro, a Juazeiro do Norte. Baterá o ponto na estátua de Padre Cícero. Um personagem que, embora a Igreja não tenha canonizado, é tratado como santo.

Nas eleições de 1994 e 1998, em que FHC prevaleceu sobre Lula, Tasso levou-o à mesma estátua.

Em 2006, ano em que Lula bateu Geraldo Alckmin, Tasso também levou o tucano à presença do santo petrificado. Corrige agora o hiato de 2002. Fechado à época com a candidatura presidencial do amigo Ciro, Tasso se esquivara de levar Serra à presença de Cícero.No mais, a agenda de Serra foi concebida de modo a evocar a passagem dele pelo governo FHC. Na cidade de Barbalha, vai visitar um hospital.Chama-se Maternidade São Vicente de Paulo. O setor de oncologia foi construído com verbas federais, na época em que Serra era ministro da Saúde.

Na cidade de São Gonçalo do Amarante, Serra vai ao Porto de Pecém. Obra da era FHC, feita numa fase em que Serra era ministro do Planejamento.O candidato tenta dar consistência a um discurso que empinara na semana passada, em Pernambuco.Em entrevista radiofônica, Serra fora inquirido sobre uma pecha que o persegue: a fama de antinordestino.

Dissera que, entre os políticos de fora da região, considera-se principal benfeitor do Nordeste.

A exemplo do que vem fazendo desde que levou os sapatos à estrada, Serra passará pelo Ceará

sem pronunciar ataques a Lula ‘Acima do Bem e do Mal’ da Silva. Dá um boi para entrar numa briga com Dilma. E uma boiada para não se meter numa contenda com o presidente, dono de popularidade lunar.

Dilma em alta no Vox Populi: recall ou voto firme?

Do blog de Jose Roberto de Toledo:

Qual o significado da ascensão de Dilma Rousseff (PT) no Vox Populi após as inserções do seu partido no rádio e na TV? Que ela está no caminho inapelável da vitória? Ou apenas que ela tornou-se mais conhecida pela propaganda e que seu nome passou a surgir com mais frequência na boca dos eleitores que viram os spots de 30 segundos do PT em que ela era o único destaque? Nem tanto ao mar nem tanto à terra.

Enquanto apenas pouco mais de um terço (36%) citarem espontaneamente o nome de um presidenciável, é prematuro usar os fotogramas atuais e passados para projetar o resto do filme. A maioria dos eleitores ainda não parou para pensar em quem vai votar em outubro, está provavelmente mais preocupada com seus problemas diários e, a partir de junho, com a seleção de Dunga.

Em situações assim, muitos entrevistados, para se livrar do pesquisador que está impondo um problema sobre o qual não haviam refletido, respondem o primeiro nome que lhes vêm à cabeça. E aí funcionam mais os mecanismos da memória do que do raciocínio. É o chamado recall: a citação do nome que está mais fresco na mente, ou ao qual o eleitor foi mais exposto.

Assim como José Serra (PSDB) está bem colocado nas pesquisas de intenção de voto porque já disputou muitas eleições e aparece com frequência na TV e no rádio, Dilma está se beneficiando da exposição de seu nome nos meios de comunicação de massa. Mas claro que isso não aconteceria se não houvesse algum conceito que o eleitor considere positivo associado ao nome da petista. No seu caso, a associação é com o presidente Lula e sua alta aprovação.

Há, porém, uma parcela do eleitorado que é mais engajada e interessada na disputa de poder. Esses eleitores têm, na grande maioria, preferência partidária ou se mobilizam contra um nome, um partido ou uma ideologia. Foram os primeiros a declarar espontaneamente voto nos presidenciáveis. Mas ainda são minoria: são 2 pontos dos 9% de Marina, 15 pontos dos 35% de Serra e 19 pontos dos 38% de Dilma, segundo o Vox Populi.

Oficialmente, estamos na pré-campanha, embora os presidenciáveis há meses estejam voando para cá e para lá cabalando votos. É uma fase de aquecimento, de aproveitar todas as possibilidades de exposição do nome do pré-candidato, de montar palanques eleitorais nos estados, de fazer alianças para ampliar seu tempo de propaganda na TV, de alistar cabos-eleitorias e de preparar o caixa que vai sustentar a campanha.

Traduzidos como as chances de vitória do pré-candidato, bons resultados nas pesquisas de intenção de voto a esta altura implicam mais aliados, mais minutos na TV, mais cabos-eleitorais e mais dinheiro. Sob esse aspecto, a ascensão de Dilma no Vox Populi deve ajudar o PT. Mas apenas a evolução dos resultados e sua comparação com os dos outros institutos poderão confirmar se essa oscilação da petista é ou não uma tendência de voto firme.

E, mesmo que seja, não pode ser vista como imutável. Há uma campanha no meio do caminho dos presidenciáveis, com debates, entrevistas e, eventualmente, dedo-no-olho e puxão de cabelo de parte a parte. O caminho até a urna é acidentado e cheio de curvas. Dizer, desde já, que fulano ou beltrana está com sua passagem até o Palácio do Planalto assegurada é apenas propaganda.

Serra corteja os ‘órfãos’ de Ciro em viagem ao Ceará

O presidenciável tucano José Serra inicia nesta segunda (17) uma viagem de dois dias ao Ceará. Vai testar o apoio do grão-duque do tucanato cearense, Tasso Jereissati, que se negou a apoiá-lo na cruzada presidencial de 2002. Terá, de resto, a oportunidade de cortejar o eleitorado de Ciro Gomes (PSB), arrancado da corrida sucessória em articulação urdida por Lula.

Ciro liderava as pesquisas no Ceará no instante em que o PSB, cedendo às pressões de Lula, passou a candidatura dele na lâmina.

Para sorte de Serra, o eleitor de Ciro, seu desafeto, se confunde com o de Tasso, seu neo-aliado.

Para azar de Serra, os eleitores em disputa são, em sua maioria, clientes do Bolsa Família.

É gente que, ainda que se disponha a devolver Tasso ao Senado, será sensível aos apelos de Lula ‘Cabo Eleitoral’ da Silva em favor de Dilma Rousseff.

O primeiro estágio da visita de Serra é a região do Cariri. Vai visitar três municípios, sempre com Tasso a tiracolo.Vai, primeiro, a Juazeiro do Norte. Baterá o ponto na estátua de Padre Cícero. Um personagem que, embora a Igreja não tenha canonizado, é tratado como santo.

Nas eleições de 1994 e 1998, em que FHC prevaleceu sobre Lula, Tasso levou-o à mesma estátua.

Em 2006, ano em que Lula bateu Geraldo Alckmin, Tasso também levou o tucano à presença do santo petrificado. Corrige agora o hiato de 2002. Fechado à época com a candidatura presidencial do amigo Ciro, Tasso se esquivara de levar Serra à presença de Cícero.No mais, a agenda de Serra foi concebida de modo a evocar a passagem dele pelo governo FHC. Na cidade de Barbalha, vai visitar um hospital.Chama-se Maternidade São Vicente de Paulo. O setor de oncologia foi construído com verbas federais, na época em que Serra era ministro da Saúde.

Na cidade de São Gonçalo do Amarante, Serra vai ao Porto de Pecém. Obra da era FHC, feita numa fase em que Serra era ministro do Planejamento.O candidato tenta dar consistência a um discurso que empinara na semana passada, em Pernambuco.Em entrevista radiofônica, Serra fora inquirido sobre uma pecha que o persegue: a fama de antinordestino.

Dissera que, entre os políticos de fora da região, considera-se principal benfeitor do Nordeste.

A exemplo do que vem fazendo desde que levou os sapatos à estrada, Serra passará pelo Ceará

sem pronunciar ataques a Lula ‘Acima do Bem e do Mal’ da Silva. Dá um boi para entrar numa briga com Dilma. E uma boiada para não se meter numa contenda com o presidente, dono de popularidade lunar.

Dilma em alta no Vox Populi: recall ou voto firme?

Do blog de Jose Roberto de Toledo:

Qual o significado da ascensão de Dilma Rousseff (PT) no Vox Populi após as inserções do seu partido no rádio e na TV? Que ela está no caminho inapelável da vitória? Ou apenas que ela tornou-se mais conhecida pela propaganda e que seu nome passou a surgir com mais frequência na boca dos eleitores que viram os spots de 30 segundos do PT em que ela era o único destaque? Nem tanto ao mar nem tanto à terra.

Enquanto apenas pouco mais de um terço (36%) citarem espontaneamente o nome de um presidenciável, é prematuro usar os fotogramas atuais e passados para projetar o resto do filme. A maioria dos eleitores ainda não parou para pensar em quem vai votar em outubro, está provavelmente mais preocupada com seus problemas diários e, a partir de junho, com a seleção de Dunga.

Em situações assim, muitos entrevistados, para se livrar do pesquisador que está impondo um problema sobre o qual não haviam refletido, respondem o primeiro nome que lhes vêm à cabeça. E aí funcionam mais os mecanismos da memória do que do raciocínio. É o chamado recall: a citação do nome que está mais fresco na mente, ou ao qual o eleitor foi mais exposto.

Assim como José Serra (PSDB) está bem colocado nas pesquisas de intenção de voto porque já disputou muitas eleições e aparece com frequência na TV e no rádio, Dilma está se beneficiando da exposição de seu nome nos meios de comunicação de massa. Mas claro que isso não aconteceria se não houvesse algum conceito que o eleitor considere positivo associado ao nome da petista. No seu caso, a associação é com o presidente Lula e sua alta aprovação.

Há, porém, uma parcela do eleitorado que é mais engajada e interessada na disputa de poder. Esses eleitores têm, na grande maioria, preferência partidária ou se mobilizam contra um nome, um partido ou uma ideologia. Foram os primeiros a declarar espontaneamente voto nos presidenciáveis. Mas ainda são minoria: são 2 pontos dos 9% de Marina, 15 pontos dos 35% de Serra e 19 pontos dos 38% de Dilma, segundo o Vox Populi.

Oficialmente, estamos na pré-campanha, embora os presidenciáveis há meses estejam voando para cá e para lá cabalando votos. É uma fase de aquecimento, de aproveitar todas as possibilidades de exposição do nome do pré-candidato, de montar palanques eleitorais nos estados, de fazer alianças para ampliar seu tempo de propaganda na TV, de alistar cabos-eleitorias e de preparar o caixa que vai sustentar a campanha.

Traduzidos como as chances de vitória do pré-candidato, bons resultados nas pesquisas de intenção de voto a esta altura implicam mais aliados, mais minutos na TV, mais cabos-eleitorais e mais dinheiro. Sob esse aspecto, a ascensão de Dilma no Vox Populi deve ajudar o PT. Mas apenas a evolução dos resultados e sua comparação com os dos outros institutos poderão confirmar se essa oscilação da petista é ou não uma tendência de voto firme.

E, mesmo que seja, não pode ser vista como imutável. Há uma campanha no meio do caminho dos presidenciáveis, com debates, entrevistas e, eventualmente, dedo-no-olho e puxão de cabelo de parte a parte. O caminho até a urna é acidentado e cheio de curvas. Dizer, desde já, que fulano ou beltrana está com sua passagem até o Palácio do Planalto assegurada é apenas propaganda.

O Brasil acima da lei

Em referência aos 25 anos do fim do regime militar, a BBC elaborou interessante reportagem que analisa a democracia brasileira.

Ao acolher a opinião principalmente de vários cientistas políticos, a matéria fixa o entendimento de que temos uma democracia eleitoral plena e acima de qualquer suspeita no que se refere à legitimidade das urnas.
No entanto, o sistema brasileiro ainda é pleno de defeitos sociais e políticos.

Entre os “gargalos” que limitam a democracia, os especialistas apontaram uma série de argumentos válidos como a incapacidade estatal de prover com qualidade serviços essenciais, a exemplo da educação, e os altos indicadores de pobreza. No plano político ressaltaram os vários problemas de funcionamento do Parlamento.
Neste aspecto foi mencionada a sobreposição de poder no processo legislativo. De acordo com dados do Departamento de Ciência Política da USP, entre os anos 1995 e 2006, 85,5% das matérias aprovadas na Câmara dos Deputados foram de iniciativa do Governo Federal. A se considerar que o restante só se converte em lei com o assentimento do Palácio do Planalto, fica evidente a função de vassalagem prestada pelos parlamentares. Subserviência conveniente já que o rebaixamento é recompensado por inúmeras vantagens, até pecuniárias como demonstrou o mensalão.

Outro problema que se ressalta é a dificuldade de composição de maioria parlamentar para governar, o que acaba por produzir coalizões frankensteinianas, para usar terminologia menos agressiva sobre os monstrengos gosmentos produzidos no ambiente político brasileiro. Neste sentido, é bastante pertinente a análise que o instituto independente de Nova York, Freedom House, faz da política brasileira.

Fundada em 1941, a Freedom House teve Eleonor Roosevelt como primeira presidente honorária. A organização é espécie de cão de guarda da democracia no mundo, com extensa folha de serviços prestados no combate às ditaduras na América Latina, ao comunismo no período de dominação soviético na Europa Central e Oriental e ao totalitarismo religioso na África e no Oriente.

No Mapa da Liberdade 2010, a instituição situa o Brasil ao lado das grandes democracias do mundo, mas mostra os nossos defeitos institucionais. O principal deles é a corrupção endêmica que contamina todos os poderes. O favorecimento ilegal é a medula da governabilidade no País.

Por seu intermédio se opera o grande negócio do capitalismo brasileiro e até mesmo se manipula a ordem jurídica por conta dos desvios de conduta dentro do Judiciário.

A Freedom House aponta que trama contra a democracia nacional o poder das organizações criminosas apoiadas na capacidade armada do tráfico de drogas. O instituto lembra que a estrutura policial é também corrupta, violenta e insubordinada às normas de correição, enquanto o sistema penitenciário é absolutamente anárquico. Embora pertinente a análise não apresenta nenhum defeito novo.

Certamente, o Brasil terá ainda longo caminho para operar a transição da democracia formal para o regime de pleno Estado de Direito. É preciso realmente reduzir as desigualdades, acabar com a pobreza, ter governo eficaz e sistema político representativo. Alcançado todo esse Brasil imaginário, o País ainda continuará bananeiro enquanto houver indivíduos acima da lei. Sobre tal privilégio nada foi dito ou comentado.

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)

O Brasil acima da lei

Em referência aos 25 anos do fim do regime militar, a BBC elaborou interessante reportagem que analisa a democracia brasileira.

Ao acolher a opinião principalmente de vários cientistas políticos, a matéria fixa o entendimento de que temos uma democracia eleitoral plena e acima de qualquer suspeita no que se refere à legitimidade das urnas.
No entanto, o sistema brasileiro ainda é pleno de defeitos sociais e políticos.

Entre os “gargalos” que limitam a democracia, os especialistas apontaram uma série de argumentos válidos como a incapacidade estatal de prover com qualidade serviços essenciais, a exemplo da educação, e os altos indicadores de pobreza. No plano político ressaltaram os vários problemas de funcionamento do Parlamento.
Neste aspecto foi mencionada a sobreposição de poder no processo legislativo. De acordo com dados do Departamento de Ciência Política da USP, entre os anos 1995 e 2006, 85,5% das matérias aprovadas na Câmara dos Deputados foram de iniciativa do Governo Federal. A se considerar que o restante só se converte em lei com o assentimento do Palácio do Planalto, fica evidente a função de vassalagem prestada pelos parlamentares. Subserviência conveniente já que o rebaixamento é recompensado por inúmeras vantagens, até pecuniárias como demonstrou o mensalão.

Outro problema que se ressalta é a dificuldade de composição de maioria parlamentar para governar, o que acaba por produzir coalizões frankensteinianas, para usar terminologia menos agressiva sobre os monstrengos gosmentos produzidos no ambiente político brasileiro. Neste sentido, é bastante pertinente a análise que o instituto independente de Nova York, Freedom House, faz da política brasileira.

Fundada em 1941, a Freedom House teve Eleonor Roosevelt como primeira presidente honorária. A organização é espécie de cão de guarda da democracia no mundo, com extensa folha de serviços prestados no combate às ditaduras na América Latina, ao comunismo no período de dominação soviético na Europa Central e Oriental e ao totalitarismo religioso na África e no Oriente.

No Mapa da Liberdade 2010, a instituição situa o Brasil ao lado das grandes democracias do mundo, mas mostra os nossos defeitos institucionais. O principal deles é a corrupção endêmica que contamina todos os poderes. O favorecimento ilegal é a medula da governabilidade no País.

Por seu intermédio se opera o grande negócio do capitalismo brasileiro e até mesmo se manipula a ordem jurídica por conta dos desvios de conduta dentro do Judiciário.

A Freedom House aponta que trama contra a democracia nacional o poder das organizações criminosas apoiadas na capacidade armada do tráfico de drogas. O instituto lembra que a estrutura policial é também corrupta, violenta e insubordinada às normas de correição, enquanto o sistema penitenciário é absolutamente anárquico. Embora pertinente a análise não apresenta nenhum defeito novo.

Certamente, o Brasil terá ainda longo caminho para operar a transição da democracia formal para o regime de pleno Estado de Direito. É preciso realmente reduzir as desigualdades, acabar com a pobreza, ter governo eficaz e sistema político representativo. Alcançado todo esse Brasil imaginário, o País ainda continuará bananeiro enquanto houver indivíduos acima da lei. Sobre tal privilégio nada foi dito ou comentado.

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)

Escravo da ribalta

Do blog do Alon:
A largada desta etapa da “pré-campanha” presidencial neutralizou o ambiente de euforia no campo governista que marcou os primeiros meses do ano. A oposição mostrou duas coisas não exibidas até então: disposição para o embate e capacidade de articular um discurso. Acostumados a jogarem sozinhos ao longo de muito tempo, o presidente da República e o PT dão sinais de, como se diz no boxe, terem sentido o golpe.

Um sintoma é o pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva em rede nacional de TV por motivo do Dia do Trabalho. Questões procedimentais à parte, ele provoca pelo menos uma dúvida: por que o presidente precisa adotar comportamento algo heterodoxo agora, se daqui a pouquinho ele terá o gordo tempo de televisão de Dilma Rousseff na campanha, para se fartar de mandar o eleitor votar nela?

A resposta deve ser buscada na lógica das construções políticas. O presidente entrou em campo nos últimos dias menos para impressionar o público — ainda nem aí para a eleição — e mais para causar boa impressão aos aliados.

O processo eleitoral entra agora na fase decisiva da costura de alianças, e Lula quis deixar claro aos amigos em potencial que ele tem sim um discurso para, como se diz nas entranhas do governo, desconstruir a oposição.
Isso para os potencialmente amigos não cederem à tentação de virarem inimigos. Um fenômeno sempre ameaçador em exércitos que, antes de tudo, estão juntos por interesses apenas materiais.

Assim, mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade.

Lula tem objetivos ambiciosos em 2010. Além de eleger Dilma, pretende remover o PSDB do poder em São Paulo e Minas Gerais, e também encerrar a carreira política dos que lhe fizeram oposição cerrada no Congresso Nacional, com foco no Senado. Ali, Lula projeta construir para Dilma uma maioria folgada, deixando o futuro governo petista de mãos livres para as reformas constitucionais que bem entender.

Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto?

Quais são os trunfos de Dilma e de Lula na eleição? A aliança dos maiores partidos, o maior tempo na tevê, a popularidade do presidente.

Tempo de TV é importante, mas a história das eleições brasileiras está cheia de exemplos de não ser tudo. As alianças são importantes, mas eleição presidencial embute bom grau de autonomia do eleitor na relação com os candidatos. E o apoio de Lula, qual será o peso efetivo dele na hora da decisão?

Há certezas e dúvidas sobre como o cidadão comum enxerga o presidente. Certezas? Ele o vê como alguém que faz um bom governo, de realizações reconhecidas. E valoriza sua trajetória. As dúvidas estão em outro lugar.

Até que ponto Lula é um líder a quem a maioria seguirá incondicionalmente? Até que ponto o pragmatismo presidencial não acabou diluindo, no transcorrer do governo, uma certa relação afetiva que o eleitor não petista talvez mantivesse com o líder histórico do PT?

O filme sobre a vida de Lula, por exemplo, não foi um sucesso de bilheteria. Ao contrário. Uns dizem que a fita é simplesmente ruim, mas o insucesso não foi previsto quando ela estreou, ou pré-estreou. Muita gente boa que viu na época apostou na capacidade de a obra galvanizar emocionalmente o país, com óbvios efeitos no processo eleitoral. Simplesmente não aconteceu.

Num extremo, o entorno de Lula busca convencê-lo de que se transformou num guia condutor de almas, para além da simples racionalidade. No outro, a oposição gostaria de acreditar que Lula só transferirá a Dilma os votos que ela já teria por ser a candidata do PT.

A verdade está em algum lugar no meio. Onde? Ninguém, no governo ou na oposição, tem certeza.
Daí que Lula tenha precisado voltar à ribalta. De onde não consegue sair sem gerar na turma dele uma sensação chata de insegurança.

Escravo da ribalta

Do blog do Alon:
A largada desta etapa da “pré-campanha” presidencial neutralizou o ambiente de euforia no campo governista que marcou os primeiros meses do ano. A oposição mostrou duas coisas não exibidas até então: disposição para o embate e capacidade de articular um discurso. Acostumados a jogarem sozinhos ao longo de muito tempo, o presidente da República e o PT dão sinais de, como se diz no boxe, terem sentido o golpe.

Um sintoma é o pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva em rede nacional de TV por motivo do Dia do Trabalho. Questões procedimentais à parte, ele provoca pelo menos uma dúvida: por que o presidente precisa adotar comportamento algo heterodoxo agora, se daqui a pouquinho ele terá o gordo tempo de televisão de Dilma Rousseff na campanha, para se fartar de mandar o eleitor votar nela?

A resposta deve ser buscada na lógica das construções políticas. O presidente entrou em campo nos últimos dias menos para impressionar o público — ainda nem aí para a eleição — e mais para causar boa impressão aos aliados.

O processo eleitoral entra agora na fase decisiva da costura de alianças, e Lula quis deixar claro aos amigos em potencial que ele tem sim um discurso para, como se diz nas entranhas do governo, desconstruir a oposição.
Isso para os potencialmente amigos não cederem à tentação de virarem inimigos. Um fenômeno sempre ameaçador em exércitos que, antes de tudo, estão juntos por interesses apenas materiais.

Assim, mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade.

Lula tem objetivos ambiciosos em 2010. Além de eleger Dilma, pretende remover o PSDB do poder em São Paulo e Minas Gerais, e também encerrar a carreira política dos que lhe fizeram oposição cerrada no Congresso Nacional, com foco no Senado. Ali, Lula projeta construir para Dilma uma maioria folgada, deixando o futuro governo petista de mãos livres para as reformas constitucionais que bem entender.

Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto?

Quais são os trunfos de Dilma e de Lula na eleição? A aliança dos maiores partidos, o maior tempo na tevê, a popularidade do presidente.

Tempo de TV é importante, mas a história das eleições brasileiras está cheia de exemplos de não ser tudo. As alianças são importantes, mas eleição presidencial embute bom grau de autonomia do eleitor na relação com os candidatos. E o apoio de Lula, qual será o peso efetivo dele na hora da decisão?

Há certezas e dúvidas sobre como o cidadão comum enxerga o presidente. Certezas? Ele o vê como alguém que faz um bom governo, de realizações reconhecidas. E valoriza sua trajetória. As dúvidas estão em outro lugar.

Até que ponto Lula é um líder a quem a maioria seguirá incondicionalmente? Até que ponto o pragmatismo presidencial não acabou diluindo, no transcorrer do governo, uma certa relação afetiva que o eleitor não petista talvez mantivesse com o líder histórico do PT?

O filme sobre a vida de Lula, por exemplo, não foi um sucesso de bilheteria. Ao contrário. Uns dizem que a fita é simplesmente ruim, mas o insucesso não foi previsto quando ela estreou, ou pré-estreou. Muita gente boa que viu na época apostou na capacidade de a obra galvanizar emocionalmente o país, com óbvios efeitos no processo eleitoral. Simplesmente não aconteceu.

Num extremo, o entorno de Lula busca convencê-lo de que se transformou num guia condutor de almas, para além da simples racionalidade. No outro, a oposição gostaria de acreditar que Lula só transferirá a Dilma os votos que ela já teria por ser a candidata do PT.

A verdade está em algum lugar no meio. Onde? Ninguém, no governo ou na oposição, tem certeza.
Daí que Lula tenha precisado voltar à ribalta. De onde não consegue sair sem gerar na turma dele uma sensação chata de insegurança.