Arquivo mensal: janeiro 2011

O novo estilo no Planalto

Você tem visto Dilma Rousseff por aí? A não ser que seja ministro, parlamentar, autoridade estrangeira ou parente da presidente, você quase certamente só a viu, desde que virou presidente, em algumas poucas fotos ou raras imagens de televisão.

Dilma mudou o perfil de governar. O ritmo de trabalho se mantém intenso, mas o foco mudou. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva comandava até três solenidades por dia, a nova presidente se dedica ao trabalho interno. Reúne-se com frequência com ministros, se debruça sobre os detalhes de cada projeto.
Até meados da semana passada, não havia estado à frente de nenhuma solenidade, não havia feito qualquer discurso. Não fez nem marcou data para nenhuma viagem oficial. Bem diferente de Lula que, na segunda semana de governo, em janeiro de 2003, promoveu uma caravana, com 28 ministros, para visitar algumas das regiões mais pobres do Nordeste.

Para compensar a falta de discursos públicos, Dilma se manifesta por meio de ministros, que atuam como porta-vozes após as reuniões, ou notas oficiais, que já abordaram assuntos diversos, do aniversário de um ano do terremoto do Haiti ao prêmio de melhor jogadora de futebol do mundo conquistado por Marta.

Mantendo hábito que traz desde o tempo de Casa Civil, a presidente almoça em seu gabinete, para não perder tempo. Na época de Lula, por insistência da então primeira-dama Marisa Letícia, ele fazia a refeição no Palácio da Alvorada. Já Dilma, para não comer sozinha, chama sempre algum ministro ou assessor para lhe fazer companhia e aproveita para tratar de trabalho. O ministro Antonio Palocci tem sido a companhia mais habitual.

As reuniões com grupos de ministros, a propósito, têm sido mais frequentes. Dilma prioriza mais o trabalho objetivo e menos o rito do poder, o blá-blá-blá e as simbologias. Em princípio, uma mais que bem-vinda mudança.

Boa para Dilma, pois tem evitado exposição e, com isso, não foi até agora alvo de críticas por eventuais deslizes em seus discursos, algo de que Lula foi tão frequentemente alvo. E boa para a administração em si, que ganha em objetividade e busca por resultados concretos.

Mas tem seu lado negativo. Primeiro, para o País, pois a função de presidente exige sim seus rituais simbólicos e tem como uma das funções primordiais a comunicação com a população. Pode parecer, mas não é adereço ou populismo. Pelo menos não necessariamente. Esse contato e essa comunicação são partes indispensáveis da relação representante-representado.

Não se pode exigir, evidentemente, de Dilma a mesma capacidade de comunicação que tinha o presidente Lula. Mas o trabalho de presidente não se faz só de despachos internos e sem a construção de uma empatia mínima com a população.

É bom lembrar que, em seus momentos mais críticos no poder, Lula se apegou à sua relação com a população e ao apelo de sua capacidade retórica. Dilma corre o risco de descobrir da pior maneira que só a gestão não resolverá todos os seus problemas.

A hora de decidirOutro aspecto positivo apontado na nova era no Palácio do Planalto é quanto à forma de tomar decisões. Lula gostava de ouvir todos os lados, ponderar ao limite até formar um juízo. O que era ótimo. O problema é que ele, em muitos casos, demorava demais a decidir. O que é péssimo em muitos casos. Em outros, nem tanto.

Dilma vai pelo caminho inverso. Prefere se antecipar, ouvir um punhado de pessoas de confiança e que dominam o tema e tomar suas decisões com rapidez. O que é ótimo. Mas que pode se converter em problema.

Política é, em boa medida, habilidade para tomar não apenas a decisão correta, mas também saber o momento certo para decidir. Nem demorar demais, nem se precipitar.

Em pelo menos uma ocasião, a presidente já demonstrou ter consciência disso. Quando viu que as negociações do segundo escalão ameaçavam seu candidato a presidente da Câmara dos Deputados, tratou de jogar as definições para depois da eleição. Quando percebeu que o adiamento também era motivo para crise, antecipou algumas definições, sem bater o martelo, mas fazendo sinalizações.
Um bom começo para quem tem pela frente quatro anos para exercer a arte de administrar o tempo de decidir.

Érico Firmo
ericofirmo@opovo.com.br

Em 24 dias de Planalto, Dilma foi ao microfone 1 vez

Lula Marques/Folha

A Presidência da República oferece às pessoas que a ocupam uma tribuna vitaminada.
Algo que o expresidente norte-americano Theodore Roosevelt chamou de “bully pulpit” (púlpito formidável).
Nos seus primeiros dias de poder, Dilma Rousseff revelou-se uma cultora do silêncio. Há duas hipóteses.
Numa (a melhor), Dilma tenta se diferenciar de Lula, que vulgarizou o púlpito. Noutra, ela não sabe o que dizer.
Seja como for, o mutismo de Dilma tem ao menos uma serventia. Facilita a audição dos ruídos que PMDB e PT produzem ao redor.
A coluna Painel registra, na Folha, a contabilidade da falta de ressonância da sucessora de Lula. Recorda que, nos próximos dias, Dilma irá à boca do palco quatro vezes.
Vai soltar a língua ou continuará de boca fechada?, eis a dúvida que veio somar-se às velhas interrogações (com gás ou sem gás? Açúcar ou adoçante?).

O novo estilo no Planalto

Você tem visto Dilma Rousseff por aí? A não ser que seja ministro, parlamentar, autoridade estrangeira ou parente da presidente, você quase certamente só a viu, desde que virou presidente, em algumas poucas fotos ou raras imagens de televisão.

Dilma mudou o perfil de governar. O ritmo de trabalho se mantém intenso, mas o foco mudou. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva comandava até três solenidades por dia, a nova presidente se dedica ao trabalho interno. Reúne-se com frequência com ministros, se debruça sobre os detalhes de cada projeto.
Até meados da semana passada, não havia estado à frente de nenhuma solenidade, não havia feito qualquer discurso. Não fez nem marcou data para nenhuma viagem oficial. Bem diferente de Lula que, na segunda semana de governo, em janeiro de 2003, promoveu uma caravana, com 28 ministros, para visitar algumas das regiões mais pobres do Nordeste.

Para compensar a falta de discursos públicos, Dilma se manifesta por meio de ministros, que atuam como porta-vozes após as reuniões, ou notas oficiais, que já abordaram assuntos diversos, do aniversário de um ano do terremoto do Haiti ao prêmio de melhor jogadora de futebol do mundo conquistado por Marta.

Mantendo hábito que traz desde o tempo de Casa Civil, a presidente almoça em seu gabinete, para não perder tempo. Na época de Lula, por insistência da então primeira-dama Marisa Letícia, ele fazia a refeição no Palácio da Alvorada. Já Dilma, para não comer sozinha, chama sempre algum ministro ou assessor para lhe fazer companhia e aproveita para tratar de trabalho. O ministro Antonio Palocci tem sido a companhia mais habitual.

As reuniões com grupos de ministros, a propósito, têm sido mais frequentes. Dilma prioriza mais o trabalho objetivo e menos o rito do poder, o blá-blá-blá e as simbologias. Em princípio, uma mais que bem-vinda mudança.

Boa para Dilma, pois tem evitado exposição e, com isso, não foi até agora alvo de críticas por eventuais deslizes em seus discursos, algo de que Lula foi tão frequentemente alvo. E boa para a administração em si, que ganha em objetividade e busca por resultados concretos.

Mas tem seu lado negativo. Primeiro, para o País, pois a função de presidente exige sim seus rituais simbólicos e tem como uma das funções primordiais a comunicação com a população. Pode parecer, mas não é adereço ou populismo. Pelo menos não necessariamente. Esse contato e essa comunicação são partes indispensáveis da relação representante-representado.

Não se pode exigir, evidentemente, de Dilma a mesma capacidade de comunicação que tinha o presidente Lula. Mas o trabalho de presidente não se faz só de despachos internos e sem a construção de uma empatia mínima com a população.

É bom lembrar que, em seus momentos mais críticos no poder, Lula se apegou à sua relação com a população e ao apelo de sua capacidade retórica. Dilma corre o risco de descobrir da pior maneira que só a gestão não resolverá todos os seus problemas.

A hora de decidirOutro aspecto positivo apontado na nova era no Palácio do Planalto é quanto à forma de tomar decisões. Lula gostava de ouvir todos os lados, ponderar ao limite até formar um juízo. O que era ótimo. O problema é que ele, em muitos casos, demorava demais a decidir. O que é péssimo em muitos casos. Em outros, nem tanto.

Dilma vai pelo caminho inverso. Prefere se antecipar, ouvir um punhado de pessoas de confiança e que dominam o tema e tomar suas decisões com rapidez. O que é ótimo. Mas que pode se converter em problema.

Política é, em boa medida, habilidade para tomar não apenas a decisão correta, mas também saber o momento certo para decidir. Nem demorar demais, nem se precipitar.

Em pelo menos uma ocasião, a presidente já demonstrou ter consciência disso. Quando viu que as negociações do segundo escalão ameaçavam seu candidato a presidente da Câmara dos Deputados, tratou de jogar as definições para depois da eleição. Quando percebeu que o adiamento também era motivo para crise, antecipou algumas definições, sem bater o martelo, mas fazendo sinalizações.
Um bom começo para quem tem pela frente quatro anos para exercer a arte de administrar o tempo de decidir.

Érico Firmo
ericofirmo@opovo.com.br

Corrupção na FUNASA

POR DENTRO DA FUNASA
O escândalo envolvendo desvio de meio bilhão da Funasa oferece a base para uma discussão essencial que o Brasil continua se recusando a colocar na pauta política. Por que o absurdo se deu na Funasa, instituição criada para “promover a inclusão social por meio de ações de saneamento” e também “responsável pela promoção e proteção à saúde dos povos indígenas”? Atentem que é da saúde pública a montanha de dinheiro sob suspeita de ter sido desviada. Mas, por que a Funasa? Certamente, a corrupção que perdura por lá tem forte relação com a forma como são preenchidos os cargos de comando da instituição. A Funasa, órgão que por suas características deveria ter condução técnica, é exposto em praça pública para matar a fome dos predadores da política. Mas, sempre foi assim? Não, não foi. Foi a gestão de Luis Inácio Lula da Silva que deixou essa herança maldita para o País. Veja a explicação a seguir.

BASTA UMA PALAVRA
Nesse ponto, Lula desgraçou uma boa herança deixada por Fernando Henrique Cardoso. Antes era assim: o comando nacional da Funasa e todos os seus coordenadores regionais tinham de ser obrigatoriamente funcionários de carreira. Ou seja, servidor concursado. Além disso, o indicado precisava ter em seu currículo pelo menos cinco anos de experiência em cargos de direção. E o que fez o Governo Lula? Simples: providenciou-se uma pequena mudança na regra. Em vez de obrigatoriamente servidor de carreira um novo decreto estabeleceu que o indicado para ocupar o comando seria “preferencialmente” um servidor de carreira. Pronto. Tudo resolvido. Como a política é a arte de ocupar os espaços todos os espaços foram ocupados por políticos. O mérito que se lixe. Assim, a Funasa passou a ser dirigida por interesses políticos. Daí chega-se facilmente ao meio bilhão de reais desviados dos mais pobres.

UMA CANETADA RESOLVE
Quando ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff proferiu a seguinte frase: “A grande questão no Brasil é instituir a meritocracia no Estado, o profissionalismo”. Aplausos. Isso foi em 2009. A ministra virou presidente da República. Está com os talheres e com o prato em sua frente. Pode, com um simples decreto, desfazer a desgraceira que seu antecessor fez na Funasa e em outros órgãos federais. Dilma o fará? A tarefa é dificílima. É preciso coragem e, principalmente, força política para romper com o atraso. Nesse caso, atraso apadrinhado pelo próprio partido da presidente e pela maior sigla a lhe fornece apoio no Congresso Nacional, o sagaz PMDB, que virou donatário da capitania Funasa.

O ESTADO E O BOLSO DO REI
No Brasil, o ocupante do cargo de confiança costuma ser mais fiel ao chefe da administração do que ao interesse do Estado. Trata-se de uma cultura política do Brasil colonial, quando “o patrimônio do Estado confundia-se com o do rei e a administração era uma extensão da casa do soberano… Nesse Estado patrimonialista, as nomeações e promoções eram feitas à base do nepotismo e do apadrinhamento, e não por mérito ou competência. Essa situação persistiu por todo o Império” (FSP de 15/2/2009). Alguma semelhança com o que ocorre hoje em muitas prefeituras Brasil afora? Sim, muitas. O problema ganha uma dimensão ainda mais pecaminosa quando se sabe que as cortes de contas criadas para fiscalizar tecnicamente as gestões têm seus dirigentes oriundos da política e são apadrinhados por políticos. Em tempo: determinar que o cargo de confiança seja ocupado somente por um servidor concursado não elimina o problema, mas certamente é uma vacina que ajuda muito a diminuir a corrupção.

Fábio Campos
fabiocampos@opovo.com.br

Em 24 dias de Planalto, Dilma foi ao microfone 1 vez

Lula Marques/Folha

A Presidência da República oferece às pessoas que a ocupam uma tribuna vitaminada.
Algo que o expresidente norte-americano Theodore Roosevelt chamou de “bully pulpit” (púlpito formidável).
Nos seus primeiros dias de poder, Dilma Rousseff revelou-se uma cultora do silêncio. Há duas hipóteses.
Numa (a melhor), Dilma tenta se diferenciar de Lula, que vulgarizou o púlpito. Noutra, ela não sabe o que dizer.
Seja como for, o mutismo de Dilma tem ao menos uma serventia. Facilita a audição dos ruídos que PMDB e PT produzem ao redor.
A coluna Painel registra, na Folha, a contabilidade da falta de ressonância da sucessora de Lula. Recorda que, nos próximos dias, Dilma irá à boca do palco quatro vezes.
Vai soltar a língua ou continuará de boca fechada?, eis a dúvida que veio somar-se às velhas interrogações (com gás ou sem gás? Açúcar ou adoçante?).

Corrupção na FUNASA

POR DENTRO DA FUNASA
O escândalo envolvendo desvio de meio bilhão da Funasa oferece a base para uma discussão essencial que o Brasil continua se recusando a colocar na pauta política. Por que o absurdo se deu na Funasa, instituição criada para “promover a inclusão social por meio de ações de saneamento” e também “responsável pela promoção e proteção à saúde dos povos indígenas”? Atentem que é da saúde pública a montanha de dinheiro sob suspeita de ter sido desviada. Mas, por que a Funasa? Certamente, a corrupção que perdura por lá tem forte relação com a forma como são preenchidos os cargos de comando da instituição. A Funasa, órgão que por suas características deveria ter condução técnica, é exposto em praça pública para matar a fome dos predadores da política. Mas, sempre foi assim? Não, não foi. Foi a gestão de Luis Inácio Lula da Silva que deixou essa herança maldita para o País. Veja a explicação a seguir.

BASTA UMA PALAVRA
Nesse ponto, Lula desgraçou uma boa herança deixada por Fernando Henrique Cardoso. Antes era assim: o comando nacional da Funasa e todos os seus coordenadores regionais tinham de ser obrigatoriamente funcionários de carreira. Ou seja, servidor concursado. Além disso, o indicado precisava ter em seu currículo pelo menos cinco anos de experiência em cargos de direção. E o que fez o Governo Lula? Simples: providenciou-se uma pequena mudança na regra. Em vez de obrigatoriamente servidor de carreira um novo decreto estabeleceu que o indicado para ocupar o comando seria “preferencialmente” um servidor de carreira. Pronto. Tudo resolvido. Como a política é a arte de ocupar os espaços todos os espaços foram ocupados por políticos. O mérito que se lixe. Assim, a Funasa passou a ser dirigida por interesses políticos. Daí chega-se facilmente ao meio bilhão de reais desviados dos mais pobres.

UMA CANETADA RESOLVE
Quando ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff proferiu a seguinte frase: “A grande questão no Brasil é instituir a meritocracia no Estado, o profissionalismo”. Aplausos. Isso foi em 2009. A ministra virou presidente da República. Está com os talheres e com o prato em sua frente. Pode, com um simples decreto, desfazer a desgraceira que seu antecessor fez na Funasa e em outros órgãos federais. Dilma o fará? A tarefa é dificílima. É preciso coragem e, principalmente, força política para romper com o atraso. Nesse caso, atraso apadrinhado pelo próprio partido da presidente e pela maior sigla a lhe fornece apoio no Congresso Nacional, o sagaz PMDB, que virou donatário da capitania Funasa.

O ESTADO E O BOLSO DO REI
No Brasil, o ocupante do cargo de confiança costuma ser mais fiel ao chefe da administração do que ao interesse do Estado. Trata-se de uma cultura política do Brasil colonial, quando “o patrimônio do Estado confundia-se com o do rei e a administração era uma extensão da casa do soberano… Nesse Estado patrimonialista, as nomeações e promoções eram feitas à base do nepotismo e do apadrinhamento, e não por mérito ou competência. Essa situação persistiu por todo o Império” (FSP de 15/2/2009). Alguma semelhança com o que ocorre hoje em muitas prefeituras Brasil afora? Sim, muitas. O problema ganha uma dimensão ainda mais pecaminosa quando se sabe que as cortes de contas criadas para fiscalizar tecnicamente as gestões têm seus dirigentes oriundos da política e são apadrinhados por políticos. Em tempo: determinar que o cargo de confiança seja ocupado somente por um servidor concursado não elimina o problema, mas certamente é uma vacina que ajuda muito a diminuir a corrupção.

Fábio Campos
fabiocampos@opovo.com.br

Prevenção não ganha eleição

Há quatro anos, o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou investimentos de R$ 115 milhões para a criação de sistemas de alerta capazes de poupar vidas em catástrofes anunciadas. O dinheiro não entrou na primeira versão do PAC; deveria constar no PAC 2, ainda que reduzido a menos de um terço – R$ 36 milhões. Mas nada. Não apareceu em canto algum simplesmente porque prevenção não dá voto.

E isso vale não só para a tragédia da região serrana do Rio, que engoliu quase oito centenas de vidas e deixou outros milhares sem eira ou beira, mas para todas as áreas em que o Estado deveria se apresentar como ente educador e financiador da prevenção. É assim na saúde, na infraestrutura e, claro, na Defesa Civil, primo pobre dos orçamentos oficiais.

Políticos correm para inaugurar novos postos de saúde e hospitais, mas raros são aqueles a investir em água e esgoto tratados, que evitariam uma série de internações, especialmente de crianças, principais vítimas da irresponsabilidade dos governantes. No PAC foram concluídas apenas 8% das obras de saneamento previstas. Adoram descerrar faixas de novas estradas, 69% delas deficientes, sendo 24% em péssimas condições por falta de manutenção, de acordo com estudo do Ipea/2009.

A ponte JK, em Brasília, é um exemplo pronto e acabado disso. Acaba de ser parcialmente interditada porque desde a sua inauguração, em dezembro de 2002, não passou por qualquer tipo de manutenção. O mesmo ocorre com os linhões de energia, que só receberam algum recurso de conservação, ainda assim emergencial, depois dos apagões de novembro de 2009, que, se repetidos, poderiam ser fatais para a campanha de Dilma Rousseff.

A regra, todos sabem. Prevenir é eficiente, basta ver o resultado das polícias comunitárias na capital paulista e das UPPs no Rio. Remediar é infinitamente mais caro. Só para a calamidade serrana o governo federal já liberou mais de R$ 1 bilhão, quase 10 vezes mais do que deveria ter sido gasto em prevenção. Isso sem contar que vidas não têm preço.

Ainda assim, a maior parte dos políticos empurra a prevenção com a barriga. Possivelmente porque em ações preventivas – que muitas vezes não passam de coisas corriqueiras como limpeza de córregos, galerias, tapa-buracos, fiscalização e contenção de encostas -, não há lugar para a placa de bronze com o nome do governante da vez. Não comportam fogos de artifício, muito menos palanques.
Tudo tem um só nome: voto. E para tê-los muitas vezes bastam promessas, mesmo as sem qualquer lastro como as do PAC.

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência ‘Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

FHC: Dilma deve estar preocupada com ministério

Deborah Berlinck, O Globo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso usou o sarcasmo ao comentar neste domingo as primeiras semanas do governo de Dilma Rousseff. Sobre o novo Ministério da presidente, ele afirmou:
– Eu acho que ela deve estar preocupada.
Rindo, o ex-presidente tucano afirmou que já vê uma diferença da administração de Dilma Rousseff em relação ao governo do ex-presidente Lula:
– Eu vejo: não tenho que ouvir o Lula todo dia na televisão. Já é alguma coisa. É cedo para julgar, mas acho que o estilo é mais tecnocrático, mais discreto, menos de showman exagerado – disse o presidente.
Mas o importante, segundo o tucano Fernando Henrique, não é o estilo, mas sim quais as políticas que Dilma vai adotar.